quinta-feira, 19 de outubro de 2017

PF apreende 672 peixes ornamentais no aeroporto de Manaus; espécies do Xingu.

Boa parte dos 672 peixes ornamentais que foram apreendidos no sábado (14) pela Polícia Federal acabou morrendo, conforme informou, ontem, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) Jansen Zuanon. “Alguns exemplares chegaram mortos, mas outros morreram desde sábado devido às condições em que estavam sendo transportados”, disse o pesquisador. Conforme o especialista, os peixes apreendidos são de espécies raras e outras que estão em extinção.
Os peixes foram apreendidos na tarde do último sábado por volta das 13h e estavam sendo transportados em três malas de viagem.  Os peixes foram encontrados quando a bagagem do estudante Jhon Batalha, 23, e do técnico de segurança Leandro Martins dos Santos, 25, passava pelo raio-x do aeroporto Internacional de Manaus Eduardo Gomes, de onde eles tentavam embarcar para a cidade de Tabatinga (a 1.105 quilômetros de Manaus) para seguir para a Colômbia.
A Polícia Federal e o  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram acionados e fizeram a prisão dos contrabandistas, assim como a apreensão dos peixes. Os peixes foram encaminhados para o Inpa, onde, de acordo com o pesquisador Jansen Zuanon, chegaram em péssimo estado. Segundo ele, os peixes estavam em embalagens não  adequadas, com pouco espaço, pouca água e com acúmulo de dejetos.
Por conta disso, alguns exemplares chegaram mortos, outros morreram depois em função da debilidade física (emagrecimento), intoxicação durante o transporte pela má, qualidade da água,  e doenças, provavelmente devido ao acúmulo de bactérias na água. “Em geral a mortalidade é muito alta nesses eventos de tráfico e contrabando, podendo passar de 70%”, afirmou.
Conforme o pesquisador, uma das espécies contrabandeada pelos dois homens é o acari-zebra, que está na lista oficial de espécies brasileiras ameaçadas de extinção. A ameaça principal à espécie decorreu da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, de onde essa espécie é endêmica (só ocorre naturalmente naquele rio, e em nenhum outro lugar do mundo).
As arraias apreendidas são de uma espécie conhecida, mas a variedade do colorido que ocorre no Xingu também é específica, e tem alto valor comercial. O mercado tem interesse especial por essas espécies pela beleza e raridade, e infelizmente muitos comerciantes e  aquaristas não têm a consciência necessária para rejeitar peixes contrabandeados, especialmente no caso de espécies ameaçadas de extinção, disse o pesquisador.
Ele explicou que foram oito espécies identificadas: 302 do tipo acari-zebra hypancistrus zebra; 74 acari-pão hypancistrus sp.; 20 assacu-pirarara pseudacanthicus sp. , 42 corredora corydoras sp.; 181 acará-anão; 45 acari-tubarão scobinancistrus sp.;  e oito arraias do tipo potamotrygon orbignyi .
Espécies ainda não descritas pela ciência
Conforme o pesquisador Jansen Zuanon, entre a as espécies apreendidas estão algumas como o acari-pão e o acari-tubarão que são espécies conhecidas dos pesquisadores, mas que ainda não foram “batizadas” cientificamente, ou seja, não foram descritas formalmente para a ciência.
De acordo com o estudioso, a quantidade de espécies de peixes não descritas na Amazônia é muito grande, e os cientistas não têm conseguido descrever todas em um rito que permita o seu conhecimento antes que a destruição ambiental acabe levando muitas delas à extinção.
“É preciso contar com equipes maiores de pesquisadores e muita colaboração entre cientistas nacionais e estrangeiros para que essa tarefa seja realizada na velocidade que gostaríamos” destacou o pesquisador do Inpa.
Para Jansen Zuanon, é necessário  que a fiscalização sobre o tráfico desses animais seja intensificada com a máxima urgência, e que campanhas educativas sejam feitas para evitar que esses peixes entrem normalmente no mercado ilegal de peixes ornamentais. Afinal, receptação desses animais também é crime. 
A Crítica